quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

FAMÍLIA DA SILVA. MUITO ALÉM DOS GRAMADOS

O texto abaixo é uma produção épica do amigo Leandro Ferreira sobre o título do GE Pirabeiraba. Uma perspectiva diferente, vale a pena conferir. Parabéns Leandro. Parabéns Família Da Silva



32 minutos do segundo tempo. Escanteio para o Pirabeiraba. Na cobrança, Cavilha. Ele coloca a bola fora da marca para ganhar alguns centímetros e melhorar a condição da batida. O bandeirinha não percebe e Cavilha faz o cruzamento. Na área, no primeiro pau, está posicionado o “testa de ferro” Marcelo, artilheiro do campeonato com 17 gols e irmão de Anselmo. Lá vem a bola. Ela demora dois segundos para chegar na área. Marcelo sobe no “terceiro andar” e, com o corpo de frente para o gol, cabeceia para baixo. A bola desce e ultrapassa a linha branca. É gol. O tempo para. Na cabeça dos integrantes da família Pirabeiraba, passa um filme com vários flash´s dos últimos quatro anos que esse grupo passou sonhando com esse momento.

Em 2009, esse sonho começou a surgir. Foi quando Rogério Silva, o popular Frango, e Lori Michels começaram a montar esse grupo que ficaria conhecido como a “família Da Silva”. Com o mercado de jogadores cada vez mais inflacionado, eles decidiram subir até o Planalto Norte para observar os jogadores dessa região. De lá, trouxeram, por exemplo, Anselmo, Marcelo, Klebinho e Rodrigo Canoinhas.
Em 2010, esse grupo vestia a camisa do Juventus do bairro Iririú e, já no primeiro ano de trabalho, avançou até as semifinais, mas foi eliminado. Em 2011, o time foi a final, mas foi derrotado e o projeto Juventus terminou.

Em Pirabeiraba, Osni Catoni, supervisor de futebol, e Pedro Farias, presidente do clube, estavam dando “murro em ponta de faca”. “Nós trazíamos bons jogadores, mas faltava espírito de grupo. Então surgiu a possibilidade da parceria com o Lori Michels e com o grupo que estava no Juventus. Fiz a proposta ao seu Pedro e ele aceitou prontamente”, relembra Osni.

A Sociedade Guarani é a sede do time do Pirabeiraba. Graças a esse grupo, seu Pedro Farias teve mais tempo, esse ano, para saborear seu caranguejo nas quartas-feiras à noite. Quem senta na ponta da mesa é o presidente Pedro Farias. Não só porque é ele quem paga a conta, mas também porque comanda essa estrutura. R$ 15 mil é o custo mensal para manter a equipe na primeira divisão. Satisfeito com o desempenho do time neste ano, e com o espírito de família que tomou conta da sede do clube nesta temporada, ele já fez o convite para que todo o grupo permaneça em 2014. Os problemas com a equipe, ele deixa a cargo de seu supervisor. Mas neste ano, Pedro precisou descer até o vestiário. Foi no jogo de volta da semifinal, contra a Tupy.

“O time que vi lá no Albano Shimidit não é o meu Pirabeiraba. E não quero ouvir explicações. Já passou. A resposta que eu quero de vocês é aqui dentro de campo porque eu acredito nesse grupo. Vamos pra cima deles!”

Deu resultado. O Pirabeiraba venceu por 2 a 0 no tempo normal e por 1 a 0 na prorrogação. 
Cronistas de toda a cidade eram unânimes em afirmar que a taça deste ano já estava garantida, ela seria do Pirabeiraba. Não era preciso ser a “mãe Diná” para prever isso, bastava olhar para os números. O time chegou ao final do campeonato com um aproveitamento de 78%. Foram 22 jogos, 16 vitórias, 4 empates, e apenas duas derrotas. Uma campanha histórica que, ainda assim, precisou ser confirmada nos jogos finais.
Na semifinal era a vez de enfrentar a atual campeã da competição, a Tupy. O jogo de ida era na casa do adversário e a equipe continuava com um importante desfalque: Anselmo. Ele é  irmão de Marcelo e durante a fase de classificação quebrara a perna em um jogo do futebol amador de Canoinhas. Atacante, goleador, Anselmo sabia que não poderia balançar as redes e nem teria como vir a Joinville, pois o gesso imobilizara toda a sua perna direita. Mas ele mandara um recado.
Quando Marcelo entrou no vestiário com 24 envelopes, lacrados, debaixo do braço, o pessoal tirou onda – “lá vem o carteiro de Canoinhas”, as risadas logo deram lugar as lágrimas. 24 cartas, escritas a mão, todas com a mesma mensagem, entregues uma a uma, do massagista ao artilheiro.

“Quando nos juntamos em 2010, nosso sonho sempre foi o de sermos campeões. Eu não vou poder correr dentro de campo porque com uma perna quebrada fica difícil, mas por isso eu escrevi essa carta. Porque eu vou estar em cada um de vocês dentro de campo, em sintonia. Esse ano nós vamos ganhar, e eu confio muito nisso porque vocês são os melhores”.
A carta até não deu muita sorte nesse jogo porque o time perdeu, por 1 x 0, com uma atuação até bastante apática, mas a partir daí a coisa mudou de figura. No jogo de volta, Anselmo não resistiu, viajou de Canoinhas a Joinville e com suas muletas assistiu o jogo do banco de reservas. Esse jogo, aliás, para Da Silva, foi uma espécie de decisão antecipada.
O estádio Oscar Castela não tem muitos lugares, cabem cerca de 300 pessoas sentadas. Atrás do campo tem uma montanha que inclusive rendeu até apelido para o estádio: La Bombonera. A torcida fez sua parte, lotou o Oscar Castela. Na arquibancada, um público diferente. As mulheres dos jogadores estão todas lá. No colo, os filhos, ainda pequeninos, são dos jogadores que estão em campo. É uma situação diferente na primeirona. As famílias chegam no estádio uma hora e meia antes do jogo. “O Da Silva cobra isso dos jogadores e todos chegam bem antes”, revela Milena Gonçalves, esposa de Cupim. Futebol, para ela, não é aquela coisa chata que prende as famílias dentro de casa nos domingos à tarde. Futebol, para ela, é passeio de família.
Todo final de semana é assim. Eles se deslocam até o estádio. Acompanham os jogos e, depois, se reúnem no salão da Sociedade Guarani para conversar, comer, beber e se divertir. Assim é o estilo Pirabeiraba de disputar a primeirona, em família. Antes, durante e depois dos jogos. Nesse meio tempo, o jogo. E o resultado dessa semifinal rendeu muita alegria na festa de fim de partida.
Primeiro tempo do jogo de volta da semifinal: 1 x 0. Resultado que já classificava o Pirabeiraba, mas ainda era perigoso. Hora de brilhar uma estrela, a do comandante.

“Mota e Luizinho, o jogo tá difícil hoje, mas é por isso que eu vou colocar vocês dois. É porque eu quero vencer, eu quero ganhar e são vocês dois que vão fazer isso pra mim, agora, dentro de campo”. 

Dito e feito. Rodrigo Mota saiu do banco de reservas para fazer a jogada do segundo gol, marcado por Luizinho. Esse gol levou o jogo para a prorrogação onde o empate já beneficiava o time da casa, mas eles queriam mais.
Faltando cinco minutos para o fim do segundo tempo da prorrogação, Cupim cai em campo. Ele não aguenta as câimbras. Um jogador adversário o ajuda a esticar o músculo e ele vai em frente. Dois minutos depois, ele avança, lembra do pacto feito pela equipe no início da competição e corre por eles, não mais por si. Cupim chega a linha de fundo com uma velocidade impressionante e cruza, rasteira. A bola atravessa toda a pequena área para chegar até Luizinho que empurra a bola para o fundo do gol. Fim de jogo, time classificado para a final.
Luizinho está muito contente e corre na direção de Anselmo. O atacante escritor agora se apoia em uma muleta e solta a outra para abraçar Luizinho. Anselmo parece um guerreiro abatido. Daqueles que os outros soldados carregam nas costas para não deixa-lo para trás após serem baleados. Anselmo está envolto a bandeira vermelha do Pirabeiraba. Lágrimas e um abraço verdadeiro.

Após o jogo, Da Silva ainda estufa o peito para confidenciar ao radialista que acompanha o jogo. “Agora, ninguém mais tira esse título da gente”.
Os dois jogos finais acontecem na Arena Joinville. É claro que os jogadores sonham com isso desde o início do campeonato. Eles querem jogar na Arena e erguer o caneco. Anselmo esquece que está de muleta. Entra com o grupo, vestido para o jogo, e com um passo mais lento, empunhando as muletas, chega ao lado de seus companheiros para cantar o hino nacional. Depois do hino, ele lembra das muletas e então vai para o banco de reservas.
O início do jogo é difícil para o time de Da Silva, tanto que, aos 14 minutos do primeiro tempo, o América abre o placar, com Ariel. E o Galo da Zona Norte só não amplia a vantagem porque Bambam faz uma grande defesa após chute de Émerson Lima. No intervalo, todos já esperavam que Da Silva cobraria forte, e não foi diferente.

“Gente, o que vocês estão fazendo?  P***!!! Vocês estão parecendo **piiii***!!! ***Piii*** é que gosta de levar porrada! O quê é isso! Gente, nós vamos virar esse jogo agora, mas antes vocês precisam seguir o que eu tô mostrando nesse quadro. Vamos seguir isso e virar esse jogo”.

Binho estava no banco de reservas, mas foi assistir a palestra no intervalo. Saiu assustado. “O homem carregou lá no vestiário”.
Antes de o juiz apitar o início do segundo tempo, Anselmo faz o que pode para ajudar. “Vamo Pirabeiraba, vamo Pirabeiraba”
O time até mostrou mais disposição na volta do intervalo, mas ainda assim tomou o segundo gol. Aos 16 minutos, Émerson chutou cruzado e Leandrinho completou para as redes. 
Mas o Peixe Brilhante estava disposto a correr atrás do marcador. E a reação começou dois minutos depois, com Marcelo. Josi avançou pela esquerda e mesmo desequilibrado conseguiu fazer o passe para Marcelo. A bola vnão veio “redonda”, mas Marcelo deu um jeito. A essa bola nas costas, mas ainda dá prá consertar. Um passo pra trás, vai que chega, de letra, de primeira, pra matar o goleiro, é agora, aahhhhh, aahhhhhh, aahhhhhh. “Mano, mano, mano, gol, gol, gol, gol, gol, gol”.
Aos 27 minutos foi a vez de Cupim aproveitar um chute forte e desviar de cabeça para empatar o jogo. Tudo igual. A essa altura o empate já era um grande resultado para o Pirabeiraba. Tanto que no apito final os jogadores comemoraram muito esse empate. Na saída do gramado, Cupim olha par alguns torcedores que ainda estão na Arena e, de braços erguidos para o céu, grita “Vamos Pirabeiraba”.
A primeira batalha teve sabor de vitória e a comemoração era certa. Da Silva dá muito valor as confraternizações pós jogo. Luizinho que o diga.
“Professor, não vai dar pra ir lá na festa hoje”
“Por que não?”
“Hoje eu tenho um compromisso com a patroa, não vai dar”
“Vai dar sim, tu vai lá, só dá uma passadinha e depois tu sai com a tua patroa”
“Tá ok então, vamos lá”
O comandante desse grupo, Da Silva, começou nas categorias de base e rodou  o futebol brasileiro na posição de volante. O que aprendeu sobre o futebol ele credita a duas pessoas. Primeiro, a seu pai e, depois, a Vanderlei Luxemburgo com quem fez um estágio depois que parou de jogar. O que aprendeu na vida, ele credita a seu pai e a sua família. Especialmente a seu irmão, Tecão, que também é técnico de futebol. Depois que parou de jogar, Da Silva ainda trabalhou na Busscar até a empresa falir. Hoje, ele diz que vive o futebol 24 horas por dia. 
Esse time do Pirabeiraba foi muito além do conceito de um grupo de jogadores. Da Silva parece ter usado tudo que aprendeu no caminho da vida, e da bola, para formar esse grupo vencedor. Em alguns episódios, ele foi muito além das quatro linhas. Para Bilú, preparador de goleiros, ele virou  Pai.
Viviane Carvalho não vai esquecer nunca dos 45 dias mais longos de sua vida. Foi no ano passado, em 2012. Depois de 10 anos vivendo com o preparador de goleiros do Pirabeiraba, o Bilú, e com quatro filhos, o casal se viu diante de uma crise sem fim e o casamento acabou. 

Bilú perdeu o pai muito cedo, mas essa falta foi suprida em parte quando ele entrou para a família Da Silva. Foi quando encontrou alguém para chamar de pai, o técnico Da Silva. Quando Bilú se separou, o paizão ficou preocupado e foi procurá-lo fora de campo.
 "Bilú, o que tu fez da tua vida, guri?"
"Eu não sei, só que não dá mais. A Viviane não me quer e a gente não se acerta."
"O que tu vai fazer sem a tua família? Tu é o homem da casa, tens quatro filhos, como vai ficar isso?"
"Eu não posso viver sem meus filhos, mas também não posso voltar atrás."
"Tu pode sim, tu vai voltar atrás porque tu é um homem, tu tem uma família e ninguém pode viver sem isso. Volta pra casa e vai ser feliz!"

Em 2012, a família Da Silva sofreu uma de suas maiores decepções. Foi quando o time acabou eliminado nas semifinais da primeirona pelo Garuva, time treinado pelo irmão de Da Silva – que era considerada uma equipe inferior. Mas, todos lembram de um treino em especial, o dia da reconciliação.

Como vou dizer isso pro pessoal, será que eles vão me zoar. Não sei, acho que vou ficar na minha. Quer saber? já é.....Galera, tem novidade na área.....Entrei pro time dos casados de novo!
O Oscar Castela estava vazio, sem torcida, mas em campo a festa foi grande. Zoação, palmas e alegria geral. A Família Da Silva tinha aumentado novamente. Mais quatro crianças e uma mulher para o álbum das fotos de fim de ano. Nos olhos de Da Silva, só um brilho e uma lágrima que teimou, mas não caiu. Essa comemoração aconteceu em 2012, mas só na semana que antecedeu o título, foi que Viviane soube da festa que o grupo fez pela reconciliação do casal.

O zagueirão Miguel lembra bem desse dia. Ele também foi um dos escolhidos para integrar a família Da Silva. Com jeito sério, alto, forte, meio calvo, a primeira impressão é que é um cara experiente, de mais idade. Mas ele também é moleque e mais novo do que parece, só 25 anos. Sempre sonhou em ser jogador de futebol, mas não ficou só sonhando. Logo cedo entrou para a categoria de base do Joinville Esporte Clube e só saiu de lá quando o time ficou sem calendário. Se não dava para ficar no profissional, ele começou a faculdade de educação física, mas não largou o futebol. Muito pelo contrário, começou a jogar nos finais de semana pelo futebol amador. Em 2010, Felipe Corrêa, seu parceiro no JEC, o convidou para entrar para família.

- Miguel, vem jogar com a gente aqui com o Da Silva!

- Tô dentro!

São quatro anos com Da Silva e o título desse ano ele credita ao espírito de grupo e ao pacto feito no início da temporada, quando Da Silva reuniu o grupo e definiu pelo que eles lutariam em 2013.
“Aqui não é pacto de sangue, mas o que eu quero dizer para vocês é que nós já estamos há quatro anos buscando esse título. Esse ano, todos dizem que somos uns dos quatro favoritos. Nós vamos assumir um compromisso aqui, agora. A partir de hoje nós não somos só um dos quatro favoritos, nós somos o time favorito. Nós vamos ser campeão e temos que nos assumir como time campeão já a partir de agora, desde o início”.

As palavras de Da Silva ainda estão na mente de todos. 

Para Miguel, o primeiro jogo da decisão durou apenas 20 minutos. Ele subiu alto para disputar uma bola lá em cima com o atacante Fabiano Caratê quando cabeceou a cabeça do adversário e desabou. Ai, o que foi isso, cabeceei, caí, levanta, é final, é agora, e o pacto.....
“Mosquito eu quero jogar, eu vou levantar, fala pro Da Silva segurar....”
“Não dá cara, tu vai levar ponto, não tem como...calma, tem mais um jogo, tu vem comigo agora”.

Mosquito, o massagista do time, abraçou Miguel – que ainda estava meio tonto, e o escorou até o banco de reservas, de onde ele viu seu time levar dois gols e depois buscar o empate.

Miguel é titular desde o início do campeonato e, ao lado de uma das lendas do futebol amador, Vanclei, faz a dupla de zaga do time do Distrito Industrial de Joinville. A ligação de Vanclei para Miguel na semana que antecedeu a grande final dá uma ideia do espírito de companheirismo desse grupo.

- O Miguel, como é que tu tá, mano?
- De ontem pra hoje desinchou um pouco e eu quero jogar.
- Cara, esse momento está sendo muito especial, mesmo.
- Pra nós também, o fim de semana lá no sul do estado foi maravilhoso.
- Mano, eu vou torcer pra ti melhorar pra no domingo a gente dar a volta olímpica lá na Arena.
- Fechado.
E deu tempo para se recuperar. No dia primeiro de dezembro, lá estava Miguel entre os titulares e, no fim do jogo, dando volta olímpica. 
O jogo final da primeirona é mais badalado, tem cerimonial, mas um ritual se repete na entrada dos jogadores. Anselmo chama a atenção de todos quando entra de muletas, encontra um lugar ao lado dos companheiros e, perfilado, canta o Hino Nacional. De frente para a arquibancada, o time do Pirabeiraba vê sua torcida uniformizada, concentrada, como Da Silva mandou. O comandante não gostou de ver sua torcida espalhada pela arquibancada no primeiro jogo da final e, desta vez, pediu para que todos ficassem juntos. E lá estavam elas, as Pirabeirétes – mulheres dos jogadores. Elas pintaram faixa, levaram corneta e incentivaram o time. 


Para a grande final, uma novidade. Os dois irmãos: Cavilha, que joga no Pirabeiraba, e Cavilhinha, - América, retornam a titularidade em seus times após ficarem de fora do primeiro jogo por motivo de lesão. No primeiro tempo de jogo, prevaleceu a marcação. Precavido e sabendo que Cavilhinha iria trazer um toque de qualidade no meio campo, Da Silva colocou seu cão de guarda para marcá-lo, o Klebinho – cão de guarda fiel. Quando se juntou a família Da Silva, em 2010, Klebinho já era marcador, mas fazia muitas faltas. Falha que ele viria a corrigir com as orientações do mestre.

“Klebinho, tu quer ser titular no meu time?”
“Sim, professor”
“Então tu vai ter que aprender a marcar. Marcar fazendo falta qualquer um marca. O difícil é se antecipar, roubar a bola e entregar para o companheiro sem fazer falta. Então fica esperto, vem aqui que eu te mostro”


Na reta final da competição, Klebinho mostrou que aprendeu a lição. Na semifinal ele anulou o craque da Tupy, Anderson, e na grande final ele também fez a diferença ao anular a criação do América, marcando Cavilhinha. Ao seu lado, Rodrigo Canoinhas completou a linha de volantes do Pirabeiraba segurando Évinho que arriscava jogadas pelo lado esquerdo do ataque do América.

O primeiro tempo foi movimentado, mas terminou empatado em 0 x 0, o que levava o jogo para a prorrogação. Levaria...porque no segundo tempo, a coisa mudou.


O técnico do América ainda arriscou duas substituições. Tirou Cavilhinha e Emerson Lima para colocar João e Fabiano Caratê. Mas as alterações não surtiram efeito. O jogo no início do segundo tempo estava sonolento, mas isso não diminuía a ansiedade do Pirabeiraba. A saga dos três anos anteriores em que o grupo de Da Silva avançou para a fase final, mas não levantou o caneco, incomodava. Principalmente ao comandante. 

Meu Deus, será que isso vai acontecer de novo comigo. Não é justo, chegamos até aqui, temos que levantar esse título, essa taça tem que ser nossa. Em pé, sempre agitado, com um cavanhaque branco, cerca de 1m80 e vestido com um agasalho da seleção da Alemanha, Da Silva deixa transparecer o trem que ele carrega nas costas.

32 minutos do segundo tempo. Essa eu vou fazer, vou subir mais alto. Lá vem a bola, é minha, é agora, cabeça, chão, gol, gol, gol, gol, gol, gol, gol, gol, gol. Sai, sai de mim, não, deixa eu chegar nele, deixa eu chegar no mano, eu quero abraça-lo, eu quero ele, eu te amo mano, é nós, é nós....
Anselmo ainda está saindo do banco de reservas quando todos já estão no campo comemorando o gol de Marcelo. Anselmo consegue dar quatro passos com a muleta, chega no gramado e os dois choram.....
Um gol seria suficiente, o apito final viria em 18 minutos e o título já estava garantido. 

Apito final! Da Silva sai correndo, volta no tempo, parece o moleque que jogava na base do JEC e corre em direção a seus jogadores. Eles se abraçam, Da Silva já não tem mais o peso nas costas, ele tem asas, ele voa, ele grita, vibra e os jogadores cantam junto: “É campeão, é campeão, é campeão, é campeão, é campeão, é campeão, é campeão, é campeão, é campeão, é campeão, é campeão, é campeão, é campeão!

por Leandro Ferreira
leandro.reportagem@gmail.com

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